O tipo de olhar da sala de projeção (sala de cinema) está já garantido e padronizado: o espectador entra, senta na cadeira, desliga o celular, as luzes se apagam, o filme começa e durante uma hora e meia ele vai fingir que “não está lá”. Se precisara se deslocar (para ir ao banheiro, por exemplo) deve fazê-lo com o maior sigilo possível, deve tornar-se tão invisível quanto puder. No museu, na galeria, acontece o contrario: o espectador caminha, se desloca, faz um percurso, não tem uma temporalidade marcada porque a obra plástica não tem um principio nem um final.
Em Quem te viu Quem TV este deslocamento é central: toma tempo, mas uma vez o espectador entende que a imagem projetada na parede provém da câmara que está na gaiola, começa a fazer um percurso ao redor dela, a criar um jogo entre o próprio corpo e a sua representação, desfigurada pela natureza semi-esférica do espelho que lhe devolve a sua própria imagem projetada na tela. Alias a obra éprecisamente esse jogo, feito do percurso ao redor da gaiola e dessa interatividade com a representação.
Extraído do "Comentário sobre a obra Quem te viu Quem TV de Renato Almeida" escrito por Adolfo Cifuentes, pesquisador artista visual, Doutor em Artes e professor no Departamento de Fotografia Teatro e Cinema da Escola de Belas Artes da UFMG
Exposição Grafias – Galeria da Escola de Belas Artes UFMG